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terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Momentos!!!!



A foto já diz tudo!

Doris Teixeira






Março de 2006

Esta é uma foto minha com a professora Doris Teixeira em um curso em Curitiba, na Arte & Borda.
Não percam a oportunidade de quando forem a Curitiba, visitar a loja da Arte & Borda, elas possuem uma variedade de tecidos importados como nenhum outro lugar tem.
Rua Machado de Assis, 417 - Juvevê
Fotos da Colcha do Curso

Serial Quilter

Caso Sério - Serial Quilter Aug 27, '08 8:53 AM
for everyone
Autora: Juliana Vermelho Martins

Parte I

Eu vou lhe contar tudo, desde o início...
Ela sempre gostou de artesanato. Adorava frequentar feirinhas, comprava coisas pra alegrar a casa, até fazia um bordado de ponto cruz de vez em quando. Um dia, uma amiga que tinha chegado dos Estados Unidos trouxe uma revista. Uma simples revista. Inofensiva. Pelo menos era o que eu pensava...
Já estavamos casados há alguns anos, dois filhos, tudo ia bem na nossa vida. Mas aquela revista...
Era uma revista daquelas de decoração estilo country. Minha mulher ficou encantada com umas colchas e falou:
- Nossa! Que lindo isso! Será que é difícil fazer?
E a amiga disse:
-Acho que não. Olha só, aqui no final da revista tem uns moldes e umas explicações. Eu te empresto a revista e voce tenta.
Ela deixou a revista num canto e ficou enrolando uns tempos. Até que vieram as férias e ela reclamou que estava sem saber o que fazer nos dias em que passaríamos na praia. E eu sugeri:
-Por que voce não tenta aqueles trabalhos da revista que sua amiga te emprestou? Faz semanas que está aí Se não for pra fazer é melhor devolver
Quando penso que Eu sugeri! Não consigo me conformar...

Parte II
Ela saiu, comprou uns panos e, no final da tarde, tinha um pegador de panelas pronto. Me mostrou orgulhosa do resultado e eu incentivei. EU INCENTIVEI!!! Mesmo não entendendo nada de costura dava pra ver que não tinha ficado lá estas coisas, e a confirmação veio quando, na primeira lavada, o negócio praticamente se desintegrou. Mas ela estava empolgada e tinha até descoberto um curso numa loja de tecidos. O curso durava 8 semanas, só que ela convenceu a professora de que não poderia, por causa do trabalho, fazer em 8 semanas. Precisava fazer em 4, já que seria só pra ter as bases mesmo, era só um hobby, não era?
Foi aos poucos. Eu nem percebi. Hoje eu olho para trás e tento identificar o momento em que tudo começou, mas não consigo...
No começo foi legal, ela estava empolgada, alegre. Logo terminou uma manta, "um sampler", ela disse. Comecei ouvir as conversas pelo telefone com as amigas e vi que era uma linguagem incompreensível pra mim:
- Oi! Terminei meu quillow! Sério. Não, quiltado à mão! Juro! uns blocos em foundation outros em apliqé, com as bordas mittered. É verdade! Tô tão orgulhosa... Agora estou aqui pensando se faço uma colcha em Baltimore ou um panô em Bargello. O que voce acha?
Quillow? Quilt? Foundation?Bargello? Baltimore pra mim sempre foi uma cidade dos Estados Unidos, mas, aparentemente, eu estava enganado. Nossa comunicação estava começando a ficar difícil.
Mas o pior nem era isso...

Parte III

O problema era a invasão silenciosa da nossa casa. Aos poucos começamos a encontrar tecidos,livros, e todo tipo de material de costura em todos os cantos. Sentar no sofá era um perigo! Ser picado por uma agulha era o mínimo que podia acontecer. Isso, claro, quando a gente conseguia um espaço pra sentar.
Geralmente tudo estava tomado pelo estojo de costura, o bastidor e a colcha King Size que ela estava quiltando.
Andar descalço era uma temeridade. Alfinetes malignos e mal intencionados insistiam em chamar a atenção para o fato de estarem caídos pelo chão e pediam pra ser levados pra caixinha usando, pra isso, dos meios sórdidos como se enfiarem nos calcanhares que doíam pra caramba! Nem Aquiles suportou um ataque covarde no calcanhar, que dirá nossos pobres calcanhares mortais....
A estante foi tomada pelos livros e revistas de Patchwork que chegavam dentro de sacolas a cada vez que ela saía e passava numa livraria ("estava em Promoção, olha só!"), mas também pelo correio, com as coisas que ela pedia pela internet ("voce sabia que livros NÃO PAGAM imposto de importação? Não é o máximo?").
Tecidos então... Estavam por tudo. Acho que algum cientista ainda vai descobrir que tecidos têm vida própria e que, ainda por cima se reproduzem! Afina, como explicar as vezes em que eu fui buscar toalha de banho no escuro e descobri ao acender a luz que era um tecido de florzinhas roxas? Sem contar que quando ela viu, deu um grito e disse:
- O QUE! Voce não está pensando em se enxugar com o meu tecido da Debbie Mumm novinho, né?
Não sei quem é esta Debbie-não-sei-o-que, mas deve ser algém muito importante... Muito mais do que eu e meus filhos que já não tinham roupas limpas porque os tecidos tomavam conta dos varais e, quando esses acabaram, das portas, das janelas e de onde mais fosse possível pendurar alguma coisa.
- A gente tem de lavar os tecidos antes de usar pra soltar toda tinta e encolher tudo o que for necessário, senão o trabalho fica horrível depois.

Parte IV

Horríveis, na verdade, tinham ficado nossos almoços e jantas...
Primeiro ela começou a fazer só coisas super rápidas (tinha ficado costurando até as barrigas roncarem mais alto do que a máquina), depois começaram os PFs, ja que não tinha nhenhum espaço na mesa que não fosse tomado por moldes, tecidos, régua, tesouras, alfinetes, etc., etc., etc. Sobravam exatos 10cm da mesa suficientes, quando muito, pra colocar um pratinho de sobremesa pra cada um. E ai de quem respingasse uma só gota de qualquer coisa naquilo tudo!
Num domingo estávamos todos em casa quando, de repente, tocou um despertador. Eu levei um susto! Perguntei porque o despertador estava tocando no meio da tarde e não acreditei na resposta que ela deu sem nem levantar os olhos do EPP que estava fazendo:
- Ah! É o horário de ir buscar as crianças na escola. Eu coloquei pra despertar pra não esquecer... Voce sabe, quando eu pego numa costura não vejo a hora passar!
E tem mais! Nos armários, começaram a aparecer sacolas e mais sacolas. Aliás, as sacolas estavam também na sala, do lado do sofá, no nosso quarto, do lado da cama, na área de serviço... Essas sacolas eram um mistério pra mim até qum dia interceptei uma conversa e vi que a coisa era ainda pior do que eu imaginava!
- Tô arrasada! Temos uns 10 UFOs aqui em casa! Não, ainda não consegui dar o fim naquela sala, acredita? Só faltam as flores de fuxico e o viés e eu não me animo! Não, não é nem mais um WIP,é UFO mesmo! O problema é que tem pelo menos uns outros 10 projetos que eu quero começar, mas estou me segurando. Então, menina, tem aquela revista japonesa que tem umas bolsas em chenille que são demais! Mas eu já disse que só pego na bolsa depois de terminar pelo menos aquela aplicação em freezer paper que está me esperando há séculos no quarto!!!
Dentro das sacolas tinham UFOs?!!! Minha mulher estava recebendo marcianos em casa e ainda fazendo fuxicos com eles? Logo ela, que nunca foi de falar mal da vida de ninguem! Será que ela estava a ponto de ser abduzida?! E que história era aquela de coisa congelada no quarto? Talvez fosse esse tal de WIP, de quem eu nunca ouvi falar! E se a polícia baixasse aqui em casa? A NASA, a CIA, o FBI? Já estava até vendo a cena...
Helicópteros sobrevoando a casa, as crianças apavoradas num canto e aqueles homens em macacões e capacetes de astronauta entrando na casa, vasculhando tudo e dizendo:"Soubemos que a dona desta casa mantém WIPs congelados no quarto, enrolados em papel pra freezer, além de ter UFOs reféns, presos em bolsas de chenille"(Chenille, o que é isso, meu Deus?!). e ela, com ar de desdém: "Humpf, esse macacão deles podia pelo menos ter um quiltzinho à máquina!"

Parte V

Achei que aquilo tudo já estava indo longe demais! Conversei, tentei ser compreensivo. Disse que estava sentindo falta dela, de passearmos juntos, só nós dois, propus uma viagem. Ela relutou por uns tempos, mas depois aceitou. Ficou bem feliz com a idéia. Feliz demais, até. Eu devia ter desconfiado... Ela disse que organizaria tudo, que passaríamos 4 dias num lugar bem romântico. Era novembro e nós fomos ... pra Gramado!!!
Na volta, ela dizia pra todo mundo:
- Não sei porque ele ficou tão bravo! A gente saiu pra passear todas as noites! E depois, ele sempre reclama que trabalha demais, que está sempre cansado... Quando eu arranjo dias inteiros pra ele ficar de papo pro ar, sem fazer nada, dormindo até tarde ele acha ruim! Agora, amiga, vou te contar: o festival é TUDO-DE-BOM!!!
Comecei a ficar desesperado. Procurei maridos das amigas e vi que todos estavam na mesma situação. Criamos um grupo de auto-ajuda, e nos reuníamos, enquanto elas quiltavam, pra trocar experiências. As histórias eram escabrosas!
- Levei minha mulher pra uma viagem à Itália pra ver se ela se desligava um pouco. Quando entramos na Basílica de São Marcos, em Veneza, ela deu um grito e caiu de quatro! Ficou o tempo todo olhando só para o chão. Disse que era uma fonte de inspiração infinita pras colchas. Quis tirar foto, era proibido, então ela se ajoelhou e ficou desenhando, tirando modelos. Todo mundo olhando pras obras de arte, pros mosaicos, e ela ali, copiando o chão! E foi a mesma coisa em outras quatro cidades, Milão, Florença... Eu já não sabia mais o que fazer. Nosso album de fotos só tem foto de chão!!! Agora ela só fala em participar de um cruzeiro nas Bahamas. Patchwork em regime de confinamento!


Parte VI

- Comigo foi pior! Tinha uma obra perto de casa. Uma nova linha de onibus. Eles estavam instalando os postes de luz e os tais postes vinham embrulhados em um tipo de feltro, sei lá. Só sei que ela foi até o meio da obra, uma rodovia, e saiu carregando uns 10 metros daquele feltro todo sujo de lama! Eu perguntei: ! E se a polícia te pega roubando material na rua?" E ela disse:"Imagine! Eles iam jogar fora! Quer heresia maior do que jogar tecido na rua?!E dá uma fibra excelente pra usar nos meus sanduíches!". Eu fiquei em pânico pensando que a gente ia começar a comer tecido também, mas ela me acalmou dizendo que era outro tipo de sanduíche...
- Isso não é nada! Minha muher voltou a estudar ingles. Eu fiquei contente porque pensei que ,enfim, ela estava se libertando dessa coisa. Nada disso! Ela voltou a estudar ingles pra poder assistir um canal americano de patchwork pela internet! 24 horas por dia! Isso sem falar numa Universidade de Quilt, também americana, também por internet. O que é que eu vou fazer?
E começou a soluçar. Os outros maridos, penalizados, ofereceram mais uma cerveja e suspiraram em uníssimo! Todos sabiam muito bem o poder da Internet! E agora, depois do tal Orkut, as coisas tinham piorado! Um deles andou bisbilhotando o perfil da mulher e descobriu que ela agora se auto-denominava "Serial Quilter" e que fazia parte de uma comunidade (que ele já estava a ponto de chamar de 'seita')chamada(com muita razão, diga-se de passagem) de Patchahólicas Anônimas!!! É o fim!
É por isso que eu vim aqui Doutor. Vim para saber se isso tem cura, se tem alguma coisa que eu possa fazer pela minha muher!
O médico era um especialista. Uma das maiores referências nacionais em Psiquiatria. Esse médico era realmente a última esperança de toda a família. Depois de escutar toda a história em silêncio profundo, com os braços cruzados sobre o peito e o olhar grave, o médico apoiou os cotovelos sobre a mesa, respirou fundo e disse:
- Bem... Por acaso o senhor não poderia me dar o endereço desse grupo de maridos? Minha mulher também faz patchwork!!!
E começou a chorar....

THE END